Scream, boy

Gritar é como um calmante à alma. Espanta os demônios e as fraquezas. Não necessariamente espanta, mas esconde. Grite onde os sonhos não consigam te escutar, onde os milagres são invisíveis.
Ela arrancou minha alma e levou meu coração. Era uma completa estranha e me entreguei inteiramente. Por incrível que pareça, eu tinha nossos sonhos prontos e o futuro planejado. Agora o que tenho não passa de um corpo vazio e de uma vida sem sentido.
Sentei, esperando com que um milagre surgisse. Ah, grande demora essa. Ela e nem o milagre surgiram.
O relógio pontuava três horas da manhã. Uma rua perdida naquela grande cidade. Era lá que eu me encontrava. Iludido, sozinho, bebâdo. Estava escuro e uma voz medrosa dentro de mim gritava para eu voltar, sair dali. Já tinha perdido a cabeça, não tinha mais a capacidade de amar alguém, e o lugar onde eu dormia desaparecera misteriosamente.
Três e meia e eu continuava a cambalear pela rua. Agora, me encontrava em um antro de traficantes e no ponto principal das prostitutas. Algumas olhavam para mim e reviravam o olho, como se não dessem importância. Outras mordiam o lábio e piscavam para mim. Depois de passar no meio de umas treze mulheres, eu nem olhava mais ao redor. Todas me lembravam uma das putas que arrancou meu coração.
Não me chame pelo nome, meu bem. Espere mais dois segundos que logo já volto. Acho que foi bom, até. Ela nunca mais apareceu novamente. Não sabia seu nome, apenas o número de casa. Depois de duas ou três ligações o número se tornou inexistente. Nunca mais a achei, mas também não fiz muitos esforços para encontra-la. Ela desapareceu do mundo, mas ainda permanecia em minha mente. Acho que fiquei até feliz por isso ter acontecido. Ela sumiu e me deu uma nova chance de recomeçar do zero. Vida Nova, é o que espero. Ou talvez gritar até perder a consciência, na esperança de achar alguma alma para um corpo sem vida.