quinta-feira, 22 de abril de 2010

Reactions

Eu falava com uma certa dificuldade, com uma insegurança incrível. Não havia mais ninguém caminhando ao meu lado. Elas se perderam ou talvez tenha sido eu que tenha me perdido delas.
Estava caminhando em um grande campo de pastagem rala. Andava largado e cantando canções tranquilas que a cada estrofe iam me deixando ainda mais sem força e com mais dificuldade de continuar a dar meus passos de rotina. Eu avistava montanhas e os Beatles cantando ao longe. Acenavam para mim. Estava em uma completa epifania de overdose.
Não estava assim desde o começo da minha jornada. Foi depois que encontrei Jesus me oferecendo algumas coisas estranhas. Não consegui terminar meu livro e ria sem parar olhando ao longe e escutando as melodias dos Beatles tocar. Meu sorriso era largo e tinha uma alegria sincera - o que era muito difícil acontecer - nele.
Foi um dia difícil de trabalho. No final do dia, como típico, me deitei em um sofá um tanto confortável de um lugar apenas.
Estava sonhando. E por longos quinze minutos estava em uma verdadeira eternidade. Trancado, porém não acorrentado. Foi uma verdadeira overdose de prazer. Tudo o que sempre quis em um sonho apenas.
Agora posso espalhar ao mundo que já vi os Beatles tocar. Que já escorreguei na lama de Woodstock. Tudo isso, em um sonho apenas.

sábado, 3 de abril de 2010

Ajude-me, uma última vez.

Fale comigo. Dê-me um sinal de vida, um resto de palavra, um pouco de voz. Encha meus ouvidos com sua melodia e esvazie meus olhos cobertos de lágrimas.
Eu não tenho mais visto você. Onde está seus olhos? Não escuto mais as batidas de seu coração entre essa multidão obscura.
"Estou aqui porque eu pequei, Padre. Desculpe, eu tenho sido uma garota muito, muito má." Foram as últimas coisas que ouvi saírem de sua boca. Eu estava com o corpo dela esparramado sobre o chão daquela igreja suja e sombria. O que eu poderia fazer? Gritar por socorro foi a única coisa que me ocorreu em mente. Não tinha sangue em minhas mãos, apenas escorrendo de seu corpo. Tentei não me aproximar muito, estava inseguro de que o medo que dominava seus olhos predominasse em meus pensamentos.
O que a mataria em um momento como aquele? Em plena confissão, em plena liberdade de contar seus segredos a alguém sabendo que teria seu sigilo até o resto da vida. Homicídio, suicídio, ou apenas o resgate do perdão? Ela sabia que não importava o que fosse, não seria nenhuma oração que conquistaria o que ela queria.
Não posso dizer muita coisa. Ninguém foi capaz de escutar o que estava querendo dizer, nem ela foi capaz de continuar o que estava desejando revelar a alguém.
Sentia sua alma escorrer por meus dedos e descendo mais pelo chão. Seus olhos fecharam como um movimento espontâneo sem que podessem pensar, mas eles não abriram mais. Sinto como se tivesse perdendo um pedaço de mim. A sensação era de que eu era o completo culpado por deixar aquilo acontecer. Desde que aquela menina de cabelos pretos, com olhos verdes e pele pálida entrou pela porta de meu santuário eu senti que seus lábios vermelhos tinham alguma coisa para me contar. Mas nem eu, e mais ninguém vai saber, porque eu a deixei morrer sobre meus braços fracos.