sábado, 3 de abril de 2010

Ajude-me, uma última vez.

Fale comigo. Dê-me um sinal de vida, um resto de palavra, um pouco de voz. Encha meus ouvidos com sua melodia e esvazie meus olhos cobertos de lágrimas.
Eu não tenho mais visto você. Onde está seus olhos? Não escuto mais as batidas de seu coração entre essa multidão obscura.
"Estou aqui porque eu pequei, Padre. Desculpe, eu tenho sido uma garota muito, muito má." Foram as últimas coisas que ouvi saírem de sua boca. Eu estava com o corpo dela esparramado sobre o chão daquela igreja suja e sombria. O que eu poderia fazer? Gritar por socorro foi a única coisa que me ocorreu em mente. Não tinha sangue em minhas mãos, apenas escorrendo de seu corpo. Tentei não me aproximar muito, estava inseguro de que o medo que dominava seus olhos predominasse em meus pensamentos.
O que a mataria em um momento como aquele? Em plena confissão, em plena liberdade de contar seus segredos a alguém sabendo que teria seu sigilo até o resto da vida. Homicídio, suicídio, ou apenas o resgate do perdão? Ela sabia que não importava o que fosse, não seria nenhuma oração que conquistaria o que ela queria.
Não posso dizer muita coisa. Ninguém foi capaz de escutar o que estava querendo dizer, nem ela foi capaz de continuar o que estava desejando revelar a alguém.
Sentia sua alma escorrer por meus dedos e descendo mais pelo chão. Seus olhos fecharam como um movimento espontâneo sem que podessem pensar, mas eles não abriram mais. Sinto como se tivesse perdendo um pedaço de mim. A sensação era de que eu era o completo culpado por deixar aquilo acontecer. Desde que aquela menina de cabelos pretos, com olhos verdes e pele pálida entrou pela porta de meu santuário eu senti que seus lábios vermelhos tinham alguma coisa para me contar. Mas nem eu, e mais ninguém vai saber, porque eu a deixei morrer sobre meus braços fracos.

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