sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Mal algum

Podia-se ver porque ele estava fazendo-o, era puro prazer. Mordia os lábios na esperança da maior concentração possível. Enquanto olhava-o, passava delicadamente sua mão em minha coxa. Era tão rude e repugnante que até parecia sensível.
Nos encontramos várias vezes. Muitas delas, houveram apenas trocas de olhares. Beijos e abraços era que aconteciam quando era permitido. Pode-se dizer que aproveitamos cada momento a sós.
Era tão engraçada tal situação, que, as vezes, me deixava sorrir. Ele não gostava muito. Dizia que não era momento para rir, e perguntava-me porque parecia ser tão engraçado. Depois, um breve silêncio. Na maior parte das vezes, apenas respondia que estava rindo pela situação. Afinal, não é todo dia que um homem beija-lhe a mão, ou vá até além, não é?
Sabia que não ia me fazer mal nenhum. Ele não teria coragem, porém teve coragem demais para demonstrar o que sentia em cinco palavras, mas, para todos, ainda continua sendo um mistério o motivo pelo o que o levou a fazer isso.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Almas Perdidas

Quero descobrir o que houve com eles. Para onde foram. Estão eles sobrevoando por aí, ou foram resgatados e se encontram no paraíso?
Abaixo do solo, para lá que deveriam ir. Todos irão, um dia. Um dia onde as portas do paraíso se fecharão para sempre. Estará preta o que um dia já foi branca como algodão-doce? Causa dos impuros homens que as poluíram.
Pecados. Desejos que se tornam realidade, deveriam todos realizar. Procuram a felicidade na forma contrária Daquele que disse o que achava sobre o melhor.
Pedimos implorando para Ele nos ajudar. Tampou os ouvidos para o mundo e revirou os olhos. Se existe, por que esperamos que Ele nos ajudará? Ou talvez queira que nos ajoelhemos diante dele e beije seus pés para sentir-se um pouco mais poderoso.
Ele é uma mentira criado por não sei quem, e acreditado por todos. Não somos obrigados a seguir a doutrina de mais um resto do mundo. Por que ainda nos dizem que " devemos " fazê-lo?
Dizem que somos livres, mas ainda me sinto acorrentada.
Consegui a chave para o caminho da liberdade agora. Estou no paraíso, reinando nas trevas.

Éramos a comida

Estavam nos observando. Não podíamos fugir. Perdemos o controle da situação. Estávamos sozinhos agora, cansados de engolir a própria saliva para parecermos que tínhamos algum pouco de comida.
Trancafiados há meses. Podia sentir a carne de meu corpo debatendo-se de tanto tremer. As pupilas doendo por não dormir, com medo de nos matarem enquanto descansávamos.
Eles temperavam o filé de uma forma tão delicada, que podia-se sentir o cheiro dos temperos entrando em nossas gargantas e alimentando-nos. Todo dia tiravam alguém de lá. Passavam-se uma hora, as vezes mais, as vezes menos, entravam e diziam que ele tinha ido para um lugar melhor, e derrepente começavam a rir.
Nunca entendi na realidade o que queriam expressar, mas não pareciam que foram para um lugar melhor.
De duas em duas semanas entregavam pequenas facas serradas e porcos famintos dentro de nossas celas, diziam para termos boa sorte, " Se não comerem o porco, ele come vocês ". Havia pequenas câmeras entre o encontro de duas paredes. Na minha opnião, eles não faziam isso para nos alimentar ou alimentar os porcos, pura diversão.
Até que um dia só restou a mim. Quando me amarraram em uma maca de metal a única coisa que pude ouvir foi minha mente gritando que tudo o que fizeram com aqueles pobres prisioneiros era o puro ato da antropofagia. Derrepente, fechou-se meus olhos.

Lágrimas de sangue

Lágrimas caem do céu de um Deus que não existe mais. A mídia nos enganou junto com o resto do mundo que aceitou fazer parte desta mentira.
Podíamos ver a única coisa que pertenciam ser arrancadas de suas mãos. Jorrava o sangue, gritava a dor, desciam os corpos caminhando para o fim.
Já não aguentávamos mais as coisas que nos diziam. Meus ouvidos estouraram, arrancaram nossas bocas na esperança de nos manter calados. Todos estávamos sem palavras. Os olhos agora, expressavam a única coisa que podiam sentir. Gritos que não podiam ser ouvidos. E as mãos ateadas junto ao corpo.
Mataram um a um até que não sobrou ninguém. Suas almas estavam em paz finalmente. Agora flutuavam por aí, sem tempo e sem destino.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Diferenciamos

Nós perdemos tudo que se pode imaginar. Vendemos nossas mentes e almas na esperança de um destino melhor. Mas, qual decisão à tomar?
Fomos enganados junto com o resto do mundo. Disseram que seria uma boa ideia se nos rendêssemos, mas tudo foi uma mentira.
Não podemos nos orgulhar de nada que fizemos, pelo menos, não quando nos entregamos. Seguimos as regras daquilo que um dia já foi chamado de justiça.
A verdade não existia mais. Eram povos misturados, gente amontoada caminhando em uma só direção. Até parecíamos que éramos gado caminhando para a morte.
Muita dor e sofrimento foi o que aconteceu lá. Passávamos por pessoas ensanguentadas esparramadas no chão onde pisávamos, era como se ali fosse o único momento de tranquilidade que acharam desde que chegaram lá.
Perdemos muita gente conforme o tempo. Estávamos enlouquecendo. Sangue derramado numa guerra que nunca tivera fim.
E lá estivemos. Alguns sobreviveram, fugiram, foram libertados, lutaram até onde puderam. Uma raça em extinção, consequência de um povo que desistiu em vão.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Louco ou Luto

Ele está lá. Caminhando em nossos lados esquerdos. Nunca os esqueceremos. Marcaram nossas vidas de um jeito diferente. Mas, derrepente, se foram.
Rastros, nenhum. Por onde, quando, e certamente por quem devemos procurar? Nunca soube de onde tinha vindo realmente. Os anjos os trouxeram, a teoria mais provável.
Nossos vizinhos não aprovaram muito a ideia de um animal em nossa moradia. Mas, o que são eles para dizer o que é melhor? Ninguém, isso é o que eram. Acredito que foram eles. Temiam pela segurança de seu lar. Não escutar os latidos e ruídos de um animal era a primeira coisa que desejavam.
Sofria, não de luto ou louco, sofria de silêncio. Os dias estavam passando rápidos demais para aquele que se recolhia na sala de jantar e silenciava sua alma. Tranquilo ficava o ar, mas agora, pesado, consequência daquele que se fora.
Parou de caminhar conosco. Agora, estava voando até onde acreditámos que veio.