quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Éramos a comida

Estavam nos observando. Não podíamos fugir. Perdemos o controle da situação. Estávamos sozinhos agora, cansados de engolir a própria saliva para parecermos que tínhamos algum pouco de comida.
Trancafiados há meses. Podia sentir a carne de meu corpo debatendo-se de tanto tremer. As pupilas doendo por não dormir, com medo de nos matarem enquanto descansávamos.
Eles temperavam o filé de uma forma tão delicada, que podia-se sentir o cheiro dos temperos entrando em nossas gargantas e alimentando-nos. Todo dia tiravam alguém de lá. Passavam-se uma hora, as vezes mais, as vezes menos, entravam e diziam que ele tinha ido para um lugar melhor, e derrepente começavam a rir.
Nunca entendi na realidade o que queriam expressar, mas não pareciam que foram para um lugar melhor.
De duas em duas semanas entregavam pequenas facas serradas e porcos famintos dentro de nossas celas, diziam para termos boa sorte, " Se não comerem o porco, ele come vocês ". Havia pequenas câmeras entre o encontro de duas paredes. Na minha opnião, eles não faziam isso para nos alimentar ou alimentar os porcos, pura diversão.
Até que um dia só restou a mim. Quando me amarraram em uma maca de metal a única coisa que pude ouvir foi minha mente gritando que tudo o que fizeram com aqueles pobres prisioneiros era o puro ato da antropofagia. Derrepente, fechou-se meus olhos.

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